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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Que bloco é esse?

Foto: Anna Carolina Lima
Anna Carolina Lima

"Que bloco é esse? Eu quero saber. É o mundo negro que viemos mostrar pra você". Ainda não é carnaval, mas a intenção do bloco que começa, a partir de agora, a desfilar pelas linhas preenchidas nesse texto é simples e direta e conta com a ajuda desse trecho da música Mundo Negro, da banda O Rappa, escolhida para o momento que vai ser comemorado amanhã (20): o dia da Consciência Negra. Então aperte os cintos e se prepare para uma viagem ao som de berimbau, pandeiro e atabaque com direito a depoimentos e fotografias que retratam o olhar de quem passou pela experiência de produzir e transmitir um produto especial para esse dia.
O dia da Consciência Negra foi criado a partir do projeto de lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. A data lembra a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, em 1695. A importância desse dia é justificada pela proposta de conscientização e reflexão com a contribuição da cultura e do povo africano na construção da identidade nacional.  
Para comemorar esse dia tão importante, o jornal A Tarde traz, pelo oitavo ano consecutivo, um caderno especial. O tema da edição deste ano é a capoeira. "Desde sua primeira edição o caderno sempre foi temático. Em 2003 foi Qual a sua cor? A vida em um mundo racista; em 2004 falamos da África - povo do sol, mostrando a ideia de África que os baianos tinham; no ano seguinte foi a vez de retratar a ascensão econômica; em 2006 o tema foi Sou de Santo e Raça (retratando a religiosidade negra); em 2007 trouxemos as Lutas de ontem e de sempre; em 2008 mostramos as várias linguagens da arte negra e no ano passado o tema foi Produtores de Owó (dinheiro, em Yorubá), em que falamos da presença negra na economia e esse ano estamos trazendo a capoeira, em Ê Camará!", detalha a subcoordenadora do caderno e integrante do projeto editorial, Cleidiana Ramos.
O planejamento do caderno é feito da seguinte forma: "Após a liberação do projeto por parte do conselho editorial do jornal fazemos reunião com um grupo de convidados de várias organizações negras que dão sugestões de pautas e apontam fontes de informação, o que nos ajuda porque assim sabemos o que eles gostariam de ler no caderno", explica.
Sobre o que o leitor vai encontrar no caderno, Cleidiana detalha: "No decorrer de 12 páginas procuramos mostrar o tema da forma mais diversa possível. Desde a inclusão que a capoeira proporciona, a questão histórica, os movimentos, a relação próxima com o candomblé, a chegada das mulheres, a batalha para conservar a forma tradicional de transmitir conhecimento, a riqueza simbólica, até os instrumentos utilizados". O caderno traz também fotos de personagens (dos mestres João Pequeno, com 92 anos, e Bucha, cadeirante e professor, de alunos, e do vice governador da Bahia, Otto Alencar jogando capoeira), das rodas, de instrumentos, de escolas municipais que ensinam capoeira para criança carente, das grandes academias, do acervo de mestre Pastinha, dos passos da capoeira Angola e Regional, e da sequência do ritual, desde a ladainha até a luta.
Perguntada sobre como foi fazer esse especial, Cleidiana dispara: "Foi um trabalho fantástico. Em 15 dias de intensa jornada pude saber detalhes sobre a capoeira. Eu não sabia quase nada sobre o tema".
Além de Cleidiana, mais quatro repórteres (Alana Fraga, Juliana Brito, Juracy dos Anjos e Meire Oliveira) e um fotojornalista integram a equipe responsável pela produção do caderno. O fotojornalista Gildo Lima conta como foi sua experiência: "Fotografei durante 12 dias ininterrúptos. Começava de manhã e só terminava a noite. Teve dias que pegava 6 da manhã e só largava 10 da noite".
Foi percorrendo lugares como Fazenda Coutos, Curuzú, Rio Vermelho, Ondina, Politeama, Pituba, Federação, Pelourinho, Santo Antônio e Contorno (no Solar do Unhão), por vezes só com o motorista do jornal e por vezes acompanhado de repórter, que Gildo registrou momentos que ilustram Ê Camará!  
"Comecei a fotografar pela capa. Sugeri que ela retratasse uma roda de capoeira e ao fundo o por do sol. Depois parti para as fotos internas. Ficou mais fácil fazer esse trabalho porque já tinha editado outros cadernos especiais, inclusive de Consciência Negra. É um tema muito bom de fotografar. Fiquei fascinado. O que mais me chamou a atenção foi a forma e a agilidade com que os meninos jogavam. É de impressionar. Tinha menino de 10 anos jogando com adulto. Outra menina de 11 anos jogava até com mestres, tocava berimbau e pandeiro", detalha Gildo, que acredita que sua contribuição foi divulgar os trabalhos sociais do povo da capoeira. "Só quem está envolvido com o tema que conhece. Eles têm uma preocupação com o lado social, colocam gente de rua para praticar capoeira", finaliza. 
Para saber mais sobre a capoeira leia o caderno Ê Camará! na edição de amanhã (20) e confira esse mundo negro que A Tarde vai mostrar para você. 



Foto: Gildo Lima

Foto: Gildo Lima

Foto: Gildo Lima
Foto: Anna Carolina Lima

Foto: Anna Carolina Lima


Foto: Anna Carolina Lima

  
Espaço para roda de capoeira do Centro Cultural Capoeira Obìrìn Dùdù. Foto: Anna Carolina Lima

Centro Cultural Capoeira Obìrìn Dùdù. Foto: Anna Carolina Lima




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