Visualizações de página

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Bahia do sonho x a Bahia real

Anna Carolina Lima

Terra de todos nós. Terra de sol, praia, festas e de gente bonita. Essa é a nossa Bahia vista por todo o mundo como terra abençoada por Deus. Com todo esse privilégio dos céus, o governo, através de sua Secretaria de Turismo (Bahiatursa), investe pesado fazendo propaganda para atrair turistas, principalmente na época da alta estação.
Até ai nada mais justificável para quem busca ser os olhos de ouro do país. Propaganda não vende só produto, como também ideologia, opinião, vende sonhos. Assistindo, se sensibilizando e comprando a ideia o turista vem para cá e gasta. E por sinal gasta muito. Isso é ótimo porque gera emprego para os baianos ou até mesmo trabalho temporário, até que seja informal, mas não deixa de ser uma fonte de renda decente.
Pessoas são recrutadas e selecionadas para integrarem o corpo de gente com a cara da Bahia e passar a mensagem de que aqui é a terra de todos nós. O turista atende a esse "apelo" da propaganda, compra pacote para muitos dias e vem, chega aqui se depara com uma manchete lastimável na mídia: "A Bahia real e a do sonho", como publicou o jornal A Tarde de ontem, 23. O que ele pensa sabendo que a cidade que escolheu para passar suas férias ou uma temporada qualquer tem em média vinte e quatro mortes por mês resultadas de ações desastradas das polícias Civil e Militar de janeiro a setembro deste ano na Grande Salvador? Será que ainda tem vontade de ficar aqui por muitos dias ou pensa em antecipar o retorno para sua origem?
A Bahia do sonho que a propaganda retrata é aquela utópica, em que há diversão, lazer, festas, gente bonita, sol, praia e tudo de bom. Já a Bahia real é essa que vemos todos os dias estampadas nas páginas de jornal, com fartas notícias sobre assassinatos, assaltos, arrastões, sequestros, tráfico e uso de drogas, estupros e tudo de ruim que corrói a sociedade.
A Bahia do sonho de Joel da Conceição Santana, de 10 anos, vítima de bala perdida no último domingo (21), na Rua Aurelino Souza, Nordeste de Amaralina, onde morava. O garoto se preparava para dormir quando duas balas o atingiram no rosto. Ele acreditava tanto no Estado e nos seus sonhos, que chegou a participar, no início do ano, de um vídeo institucional da Empresa de Turismo da Bahia (Bahiatursa).

Pura coincidência ter sido um negro, mas lembro que Joel morreu um dia após a comemoração pela Consciência Negra. Está ai o resultado da "tal consciência" dos policiais que realizaram a operação no Nordeste de Amaralina. Consciência nenhuma sair por ai atirando feito loucos. A criança morreu. Inocente. Indefesa. Cheia de sonhos. Sonho em crescer, sonho em ser capoeirista, sonho em levar o nome da própria terra, que também é dele, para fora do país. Joel ia para a Europa ano que vem. Interromperam o sonho dele de forma irresponsável. 
Alô Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia! Acordem e tomem providências! Gente inocente como o garoto Joel não pode sofrer as consequências do despreparo de certos policiais. Vejam quem vocês colocam para garantir a segurança da população, hein.
Penso e afirmo que deve haver uma equivalência ai: a Bahia da propaganda tem que ser a mesma Bahia da vida real. A terra de todos nós não pode se sujar sendo a terra da violência, a terra do sangue.
Uma coisa é certa: o camará morreu. Infelizmente. Quem paga por isso? 


Nenhum comentário: