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sexta-feira, 14 de março de 2014

Distúrbio do sono em crianças pode levar a diagnóstico incorreto de déficit de atenção

Aproximadamente 11% das crianças, de 4 a 17 anos de idade, foram diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDAH) desde 2011, segundo o Centers for Disease Control and Prevention. A organização registra um aumento no número de casos desde 2003, entretanto, esse diagnóstico pode ser errôneo. Alguns dos sintomas, como a hiperatividade, podem significar outro tipo de problema, muito mais fácil de ser resolvido: o distúrbio do sono. A pesquisa britânica Epidemiology e Community Health confirma: crianças com horas de sono irregulares são mais hiperativas e tendem a ter mais problemas sociais, emocionais e de conduta.




A dentista Kenya Felicíssimo, única profissional na Bahia com certificação em Odontologia do Sono, explica que os pais precisam ficar atentos ao sono dos filhos. “É importante que os pais observem os filhos dormindo, pois assim conseguem perceber a presença de ronco ou de muitos movimentos de pernas ou até mesmo de todo o corpo. Estes sinais devem ser relatados ao médico, para que a suspeita seja investigada. Normalmente, quando a criança possui um distúrbio do sono, esse problema vem acompanhado de queixas escolares, como falta de atenção na sala de aula e hiperatividade, cansaço persistente e alterações de humor, como irritação”, explica Kenya Felicíssimo.




Entre os distúrbios de sono infantis mais comuns, segundo a dentista, estão o bruxismo (apertar e ranger dos dentes), o terror noturno (gritos e choros durante o sono), o sonambulismo, a enurese (xixi na cama, quando a criança já não fazia mais) e o ronco. “Os pais acham que alguns distúrbios são normais para a idade e não se preocupam. Se o ronco, por exemplo, for esporádico ou acontecer apenas quando a criança estiver gripada, os pais não devem se preocupar. Mas manifestações frequentes devem ser pesquisadas por profissionais”, explica a dentista.




Transtornos mentais e sono irregular

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, mais de 3 milhões (8,7%) de crianças e adolescentes têm sinais de hiperatividade ou desatenção; 7,8% possuem dificuldades com leitura, escrita e contas (sintomas que correspondem ao transtorno de aprendizagem); 6,7% têm sintomas de irritabilidade e comportamentos desafiadores; e 6,4% apresentam dificuldade de compreensão e atraso em relação a outras crianças da mesma idade. Os mesmos sintomas podem ser adquiridos em crianças que não dormem bem.

“É claro que os transtornos mentais existem, e há médicos gabaritados para identificá-los. Entretanto, muitas vezes os pais não alertam esses médicos de que o filho possui algum problema relacionado ao sono, e as crianças correm o risco de serem diagnosticadas incorretamente. Um sono sem qualidade atrapalha o processo de aprendizagem desde a educação infantil. Pesquisas indicam que crianças com problemas para dormir tiram notas piores na escola e têm mais dificuldade para aprender”, declara Kenya Felicíssimo.

Uma pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) realizada no ano passado, com 1.027 crianças, de 3 a 5 anos, revela que a prevalência dos distúrbios do sono é grande na garotada: 48,5% movimentam-se muito enquanto dormem, 38% acordam durante a noite e demoram para dormir novamente, 35% roncam e 21,9% fazem xixi na cama.



Causa e tratamento

Na infância, a principal causa para a ocorrência de um distúrbio do sono está nas amígdalas e adenoides, que possuem um tamanho incompatível com a dimensão do crânio. Após a avaliação médica, uma das opções é a remoção cirúrgica; entretanto, essa diferença de tamanho provavelmente melhorará com o crescimento. “Outros fatores estão no formato da face. O dentista especialista em Ortodontia deve ser consultado para avaliar e, se necessário, tratar as discrepâncias das estruturas da face, como atresias e deficiência de maxila e micrognatia (desordem do crescimento esquelético facial)”, explica a dentista.




Além disso, criar uma rotina que anteceda o sono é muito importante, tanto para a criança quanto para o adulto. “Atualmente, temos muita exposição à luz, e isso acaba enganando o cérebro no que é noite ou dia. O melhor é manter o mesmo horário de dormir. Deve-se iniciar um processo de atividades mais relaxantes, como tomar banho, contar historinhas e músicas de ninar. Promovendo uma rotina, a criança dormirá com maior facilidade e qualidade”, conclui Kenya Felicíssimo.

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